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quarta-feira

of us - também o pecado descansa ao domingo


quanto mais longe, mais se sentiam. Fazia anos que não se miravam. Era domingo. Divagava perdendo-se em metáforas, afinal como de costume, fugindo sem querer ao essencial.
Escrevia-lhe no pensamento, não como um pequeno texto de blog, mas com menos imensidão do que tinha para despejar e nem mesmo linhas de pensamento infinitas seriam suficientes. Escrevia-lhe, não para que ele entendesse o ontem, nem para que compreendesse o hoje, sim, para um qualquer outro dia perceber os sentidos daquele tempo.
Era domingo. Sorria sabendo que sempre o imaginou, de uma forma que ele nunca fora, idealizando-o em formato que nunca acontecera. Nunca o vira, nunca realmente lhe vislumbrara o interior, o avesso, o lado b. Nunca passou da sua primeira faixa de som, de uma melodia que a fascinara, nunca avançando mais, num protesto da agulha que não alinhou seu percurso.
Era domingo. Afinal eles foram um sonho em sono agitado. Sonharam-se. Desejaram-se mais que um só momento, um só registo. Quiseram-se para sempre, num egoísmos próprio e carente. E depois, guardaram-se junto ao peito, sendo seus em cabeça, igual a morada permanente. Visitavam-se como vizinhos, aos domingos.
Era domingo e mais uma vez não houvera ausência, seriam sempre lugar ou talvez seriam bibelôs, que se estima e se limpa o pó, com igual cuidado a quem ama, da única maneira que há de se amar, aos domingos.

(fim)

2 comentários:

Imprópriaparaconsumo disse...

Neste caso seriam retalhos de algo que poderia ser, mas que não foi.
Adoro a forma como escreves.
É um vazio a tua ausência :)
Um beijo

lugar lotado disse...

Imprópria, obrigada por estares sempre presente, és uma linda!!!

beijo bom!