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sábado

masturbação

era um homem bonito. alto, moreno. o cabelo bem escuro, sempre brilhante mas revolto como ele. tinha um olhar meio patético que se perdia na dimensão sôfrega do querer possuir. não se lhe conhecia corpo, as unhas ratadas, parecidas com as roupas pouco engomadas que não deixavam traduzir a musculatura.

o outro era baixo, magro, meio alourado, com trejeitos de puto charila na onda da franja. possuía um sorriso certeiro, varonil. tinha uma persistência singular ao que eram seus desejos. sabia o que queria, sem grande coisa ter.

lembrou-se do que desejava uma princesa. aos seus cinquenta anos, ainda aguardava pela moça dos sonhos no final do arco-íris ou então o caldeirão das moedas de ouro, que já era mais que duas princesas. mas não, nem princesa, nem tostão. apimentava as horas vagas no assalto a camas frias, sem deixar marcas do seu corpo nos aflorados lençóis. 

e o telefone tocou, não atendeu. era o do corpo em forma de salpicão, o que mantinha uma relação duradoura  com uma mulher idosa. dava jeito. desprovido das tecnologias informáticas, afirmava não precisar delas para sobreviver. ainda era um homem à moda antiga, embora não passasse dos trinta. os olhos verdes, esbugalhavam-se à passagem de mulher bonita, se elas lhe dirigiam palavra o sangue encharcava-lhe as bochechas e engasgava-se no próprio sorriso.

não quis pensar naquele que nunca mais viu, mas que mantinha contacto virtual, no fundo não tinha referencias para além do que fora na infância.

acariciava a pele, pensava em todos, para não pensar no que realmente queria, ali, na sua cama.
a noite foi longa,

não conseguiu.



3 comentários:

Imprópriaparaconsumo disse...

As noites são sempre mais difíceis ... :)
Beijos

Shiver disse...

Não conseguiu desta vez,melhores dias virão ;)

Homem, Homossexual e Pai disse...

Uau! belo texto, e as ilustrações do seu blog, inclusive foto de capa, são incriveis... perto do seu o meu é tão..."pobre"