conta coisas

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quinta-feira

história do avesso 2

dizia-se oliveira, era na verdade uma oliveira. não sei quantos anos teria, a oliveira, se plantada por quem mandou construir a "casa do avesso" ou parida pela farta pedra do terreno, que em júbilo ofertara o melhor de si. uma oliveira, estéril, de tom granítico embelezada a folhagem abundante.

todo o alimento, toda a água do pequeno terreno em sobressalto rochoso alimentava a sua cria, ainda assim, brilhava ao sol sem resplandecer umas escassas azeitonas caganitas, que nem aos bicos dos pardais fazia graças.

no lugar da "casa do avesso" a oliveira vivia igualmente do avesso ou atravessada pela mesma maleita da ignorância ou talvez zangada  numa proveniência anti-natura do avesso. 
a oliveira viveu muitos anos, mês sobre mês a fio, só, naquele terreno caduco em harmonia com as pedras, centrada em si e para si.

houvera um março, que alguém, ingenuamente ou julgando-se iluminado ousara contrariar eunuco quinhão, forçando a um futuro próximo um laço de possível amizade.
plantou-se uma semente de feijão.  

o feijão, que era verde, nascera em estaca, alçado nas melhores canas verdes da aldeia. tinha excelente ar, com talo vivaço, cor certa e sorrisos desenhados nas folhas, vagens nem vê-las.
a amizade não fora travada. 

no inverno seguinte a oliveira morreu.


Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não.  Vergílio Ferreira em A Nossa Morte

domingo

história do avesso 1

construiu a casa virada para o chamado caminho chão, um carreiro, que ligava o centro da pequena aldeia ao cabeço. nunca imaginou que esta ficaria num futuro não muito longínquo à sua construção, do lado avesso ao caminho principal.

a casa, não era bonita.
pegando a estrada alcatroada, eram as costas da casa o cartão de visita à chegada ao monte.
uma parede vermelha e uma porta, a chamada dos fundos, por onde entrava e saia a serviço a habitué da cozinha.

o desenhador dera à sala pequena duas grandes janelas. uma delas fazia companhia à porta dos fundos, num pandã entre o vermelho e a parede amarela onde se rasgava a tal janela, dando às traseiras um ridículo Taveirismo, nem sonhado pelo próprio, que à época certamente brincava nas ruas da Picheleira. 

uma casa, vanguardista,  móderna, ousada! 
as traseiras da casa era uma porta feia e uma janela sem sentido, encrostadas a um vermelho febril e um amarelo doente...  

   

será seguro voltar ao lugar a que pertencemos? 

quarta-feira

pormenor

Porque uma vida humana. Como ela é intensa. Porque o que nela acontece não é o que nela acontece mas a quantidade de nós que acontece nesse acontecer.                                                                                                              

Vergílio Ferreira in "para sempre" 

segunda-feira

Kissing

e porque saberia?

ébrio pelo reconhecimento visceral do que lhe assaltava os sentidos?

os raios de brilho - qual fio da navalha, que lhe resplandeciam do olhar fitado?

os nós dos dedos das mãos em desenho angelino?

e porque saberia assim tão?


interrogado pela expectativa de ouvir e ouvir e ouvir as coisas por dizer dos dias viajados e de si e das gentes que juntos esculpiram com o levar do tempo às riscas rugosas de coisas por ouvir, aos cantos dos olhos?

e porque assim tão tanto? tão tanto, sim? 

a vontade de apertar os dedos das mãos nas coxas e desenhar círculos ad infinitu na água (das costas e baixo ventre, peito feito).
queria à brava. sem nada à volta e de coração aos saltos. 
há beijos explicados muito a princípio que por não se terem trocado ficam a enquistar.

segunda-feira

verde

o sol tinha poucas horas de nascido e em bando escolhiam as melhores armas!
iam para os novos caniçais de canivete na mão, escolhiam e afiavam as melhores canas verdes.
o verão tórrido, naquele agosto, queimara muitos dos campos daquela zona galega.

- Rapariga, tu larga-me essas canas verdes que te fazem babas!

as babas não deixavam desistir ninguém da magia de afiar canas e de as ter em punho para correr pelos campos atrás das lebres - não sei por que razão nunca as conseguiram apanhar - entrar nas grutas carregadas de teias de aranhas e sentir o cabelo esvoaçar à passagem de dúzia de pequenos morcegos. subir às figueiras e espetar os melhores figos da ramada mais acima.


os treze anos eram fascinantes, tão libertos de tudo. 
as canas? as canas tinham a validade de um dia, no outro o ritual iniciava-se como fosse a primeira cana afiada da vida.

numa matinal demanda à cana perfeita, uma forte dor de barriga assombrara aquela busca, algo de estranho sentira no corpo, correra para casa lançada à casa de banho…

- Mãe,... Mãe! 
- Ai minha filha que já és uma senhora!!!

já era uma senhora?!

a cana, meio afiada, encostada à pequena janela da casa de banho caíra no chão ao conhecimento de se ser mulherzinha. não percebeu, afinal qual a razão para ao meio-dia se ser senhora, no meio de se ser infante!?

deixou de ir às canas, de correr atrás das lebres e muito menos de subir às árvores.  acabava ali as façanhas de Maria Rapazola. 

novas afiadelas surgiram, em moldes totalmente diferentes.

terça-feira

cobiço



cubro e cobro a beijos o que tiver de ser. neste meu eloquente desejo, sei que nem vejo, aposto num desconecto anseio, até o chão do mundo beijo.
beijo as expectativas irreais , nada é em vão, nem tu penses sequer num suposto não. tem de ser assim, enfeito o beijo, encanto e iludo.

suspenderam minha viagem, não quero merecer outro lugar se não este que é de tão bom estar. 
passo tinta a 5 letras e sai mais um beijo e outro a seguir, que mal tem é um beijo, de que jeito?
se não é doce é acre é viver a ocasião é um beijo vermelho, que meigo, aparentado a frio, suado a amargo, que queima, cola no lábio como a um  cubo de gelo cortado.

lânguido feitiço, indeterminado cobiço, beijo perdido num fundo de um quadro a veneno pintado. será beijo penado, num milagre de amor fantasiado?
e então, faz de conta, que mal há, é um ensaio num espelho beijado, que te deixa livre, levada, molhada e embarca afinal no beijo, beijinho e beijado e deixa-te a ver-me sorrir.

sexta-feira

escute

queria-te nesta cama. 
nesta minha ou noutra qualquer,
aqui não é especial. 
se cá estivesses queria-te toda,
em tudo nunca seria banal.

sou vilão,
sou macho sensual,
sou mágico genital que te viro
te possuo com jeito genial.

neste cântico que te trouxe,
vibrarás,
arranharás,
morderás,
enfeitiçada ficarás.

que apressada exibição.
assoalho-te nesse corpo que destila,
empurro-te do colchão,
dou-te.
 
devoluto ao chão,
arrefece-me a penetração.

quarta-feira

Não sou fã de marisco, meu amor?

Houve um switch. Não era de crendices. De todo. Mas o rosto que revisitara naquelas horas que se desfaziam em frames urgentes passara a ser um outro qualquer, outro, amigo – sim, mas outro que nunca vira. O que tinha por seu, porque o era, porque encrustou no tempo molde da vida, porque tinha o cimento efervescente das coisas nascentes, tinha-se substituído num foco/desfoco, num flash de piscar os olhos. Mas era amigo.



A voz? Não. Igualzinha – tom, timbre, ritmo, música. A Música toda certa. Tinha viajado no tubo mais fluido, na cápsula sem atrito do tempo para a felicidade despojada de cuidados quaisquer, que senão os de viver carpe diem, na ausência de pretensões.


E sem acertar, acertaram em cheio num abraço instantâneo que trazia décadas. Vulcânico.

terça-feira

66 e 3 meses

afinal nada de extraordinário aconteceu até a 3 do novo ano ímpar. voltei ao ginásio, voltei ao trabalho, voltei a casa e tenho a cama para fazer de lavado. amanhã, 4, dizem os entendidos que já não chove. dizem com a mesma certeza que dirão que dia 10 estaremos em alerta vermelho. 

voltei ao trabalho com os novos números, 66 e 3 meses. aguento? aguentamos? 
comecemos pelo ginásio. 
depois de abraçar a passadeira durante os tais 20 minutos e de seguir para os aparelhos com a minha lista de afazeres e afins. perceber que afinal ainda me recordo  de todos os dynamic stretches, achei que, afinal, a paragem não tinha causado tantos danos. achei...

saí da sala dos sacrifícios e com grande sorriso flutuei para o balneário. tomei o meu banho e até lavei os dentes dentro do duche, coisa que sempre achei meio parvo de se fazer - aos amantes desta prática nem se atrevam a perguntar porque razão acho eu tal coisa parva! - pois não sei porquê. eu não o faço ou não o fazia, mas isso era até ao ano passado, uiiii coisa que já lá vai, lá vai.

sentei-me no banquinho corrido de madeira para me secar e vestir. nesse momento entra no balneário uma senhora, talvez com os seus 60, 60 e qualquer coisa. equipava-se para ir para uma aula, julgo que, talvez de yoga ou pilates, julgo, não faço a menor ideia. da mesma forma que não sei porquê fiz juízo de valor quando a dita tira do saco os seus adidas amarelos, bem garridos e... o meu pensamento traduziu; olha, a neta já os deixou de usar!

66 e 3 meses, aguento?
que pensarão ao me verem traçar retas, exigindo-lhes tal rigor nas paralelas e perpendiculares observando o meu batom vermelho a serpentear as rugas, culminando num pescoço de galinha!?

dói-me o corpo todo...

a sério? 66 e 3 meses, aguentamos??? 
é que não se aguenta!

 

o velho reformado direito ou corcunda, não tem como novo aquele problema, de passar o domingo a pensar na segunda - Animarolin

sábado

memória

A memória é onde conseguimos encontrar os registos da saudade



hoje, ao descascar cebolas, as lágrimas escorriam-me e o ranho também.
aproveitei para chorar.
chorei, não de tristeza, nem tão pouco de felicidade.
chorei na leveza de o poder fazer com simplicidade, sem razões aparentemente fortes, sem reprimir algo naturalmente belo.
e o que é bom chorar!

em miúda recordo-me de chorar defronte ao espelho do pechiché da minha avó.
entre muitas razões que me levavam a chorar, havia uma que me danava em pleno, era o de ela não me deixar ir para a rua brincar com os rapazes. e então chorava, chorava até me rir observando as mutações pelas quais passava o meu pequeno rosto. desde as gradações de cor da tez à vermelhidão no lençol das íris.
ficava um verdadeiro quadro de horror emoldurado no espelho em madeira trabalhada com odor pesado.
assustava-me com o meu ar bizarro, mas amava aquele estado grotesco. fantasiava em seguida que me transformava num animal horrendo, daqueles do imaginário infantil e que engoliria a minha avó, que estaria na cozinha, a descascar cebolas e a chorar.

chorar é bom.
recordar é bom.
ter memória é a soma sem subtracção do que é menos bom. 

e hoje, até podia ir para a rua brincar com os rapazes. celebrar,  gesticular o lencinho branco, good bye 2016,  bonjour nouvelle année!!!
mas fico por casa, em degustações do que confeccionei com meia dúzia de cebolas, das roxas, que dá menos azia. 


oláááá que vem aí o 2017!!!
chorem por todas as razões,
chorar faz bem

sexta-feira

mais um ano... releio o que um dia escrevi. afinal tudo na mesma, aqui, neste Lugar, neste Lotado paraíso.

escrever organiza o meu pensamento, o meu estado agitado, quase endividado como o não sei quem.
em, Oce ano 2010

 

(...) Ambiciono, agora algo simples, consciente e refrescante, não arrisco dizer novo, porque não o é, mas sim creio desejar algo consistente em serenidade. (...) 

(...) Pergunto-me se desejo o só. Não, não o desejo, mas também não desejo o conformismo do estar acompanhada. Assim se traduz esta bulha, não sou uma pessoa fácil, nem tanto difícil, desordeno sim os encantos do saber viver.

(...) Uma noite destas, em sonho, revi-me na personalidade da personagem do inconsciente. Sonhava então que amava um ser afável, calmo, meigo, acolhedor e preocupado, um ser definido pela tranquilidade. Mas na ordem do bem estar há sempre quem chegue. O Agitador das Águas.
A tempestade faz igualmente parte do mais translúcido e sereno meu oceano. E como uma catástrofe natural chega o tal. O Agitador. Também o amei à sua chegada, sem tempo ou vontade de consciencializar. Era ele, sempre o mesmo, era luzidio, envolto em brilhos flashados, alegremente desmedido, transcendente. (...)

(...) Acordei como se nunca tivesse adormecido. Seria a tradução do meu desassossego? Não sei se esclarecida, mas pelo já sabido, resolvi fechei os olhos e porém adormeci.

quarta-feira

nem todos os medos são plural

lá no cabeço talvez ainda permaneça alguma pedra, uma que seja, escondida entre as ervas os cardos e os dentes-de-leão, no lugar que foi um dia a morada do Homem do Saco. 
naquela altura já não se lhe podia chamar de casa, era já uma ruína, não se decifrando as divisões, mas privilegiada por ser o sítio com a melhor vista sobre a Aldeia.

não sei bem se o Homem do Saco seria um madrugador, acordando ao primeiro raio da manhã. ao som do galo não seria certamente, para além dele, mais nenhum animal de quinta ocupava o terreno circundante à ruína. também não existia horta, nem poço. a jeito de explorador, descobria-se, ao sol do meio dia, entre as ervas daninhas e as urtigas o que fora um dia uma eira, povoada de fissuras num cimento estéril, saudoso das carícias do milho.

e ao mesmo meio dia ele batia à porta da nossa casa. vinha ao cheiro dos preparativos para o almoço que imagino irisar-lhe a pele coberta por serapilheiras presas por cordas coçadas. 

a meus olhos, era um homem gigante, magro, barbudo, sujo e não usava sapatos. nos meus três, quatros anos, possuída pelo medo, escondida entre as pernas da minha mãe, avistava-lhe os joelhos encardidos, os pêlos fartos encaracolados descendo pelas canelas e a sola dos pés eram tão grossas, como umas botas de trabalho de sola anti-perfuração.

imóvel e sem proferir palavra, esperava pelo farnel, sem agradecimento ou expressão, enfiava-o na saca igualmente de serapilheira e seguia pela estrada de gravilha, sem dor, sem  queixume.  
e eu? eu fugia para o quarto, escondia-me entre a parede e o grande roupeiro. estava a chegar a hora da sopa e do Homem do Saco.

   

come já a sopa miúda! ou queres que chame o Homem do Saco!? 

sexta-feira

out of time

sempre fora igual.
era uma repetição do que já tinha sido na vez anterior e na anterior da anterior.

em pensamento, procurava uma solução, como se de um  problema matemático se tratasse, daqueles bem duros de resolver. "só sai de casa, se conseguir resolver essa equação!", era assim, naquela época de adolescente frenética, onde o ano escolar teria de ser concluído com boa nota aos números, que ele, em jeito meio profano, meio pedagógico fazia tardia ou mesmo não efetiva  a saída noturna.

tenho saudades de ti pai. precisava de ti agora, para me fazeres pensar em igualdades, envolvendo uma ou mais incógnitas.

é que sempre fora igual.
será uma repetição de todas as que já foram?

queria parar nesta agora orla, um lugar esquecido, onde ninguém tem tempo, não questiona ou sente, não procurando valor, nem valores perdidos.

será diferente fora deste tempo?
que paladar terá?

chegava-me agora, não o simples, mas, o preciso cheiro daquela  terra molhada, aquela que tu tanto amaste e tanto me ensinou pelas quedas de bicicleta. as nódoas negras, os joelhos esfolados por lançamentos físicos, voo livre às eiras de barbas de milho.
Aquela terra galega, de aromas intensos, onde esculpia canas verdes e empolavam-se na minha tenra pele babas de coçar . e, as também sábias, elas, as ameixas quentes que nos davam dores de barriga, purgando todos os males mundanos... 

agora, ejacula no meu pensamento o cheiro daquela terra, que prazer sóbrio de ainda neste tempo, acreditar, que nela nunca haverá enganos.


 

e tu, estás dentro de mim

segunda-feira

from somewhere within




mentindo, convencera-se de que não esperaria nada de quem talvez já não conhecesse.

agarrou essa ideia para não antecipar, ainda que incerta, uma possível desilusão. na verdade esperava bem mais que um bastante.
arriscou em pensamento fugidio, um desejo de um tudo, um muito, quase doendo por sofreguidão no mais puro dos desejos, sem propósitos libidinosos.

centrou o olhar na sua boca.
entrou nela. refugiou-se para dentro daquele lugar que se confinava seguro e sentou-se na primeira vogal esculpida por uma voz melodiosa.
caíra rendida ao abismo, socalco de saliva que levava a um passado feliz.

e teve tanta vontade de morar lá... junto aquela boca, deitar-se nos lábios carnudos de cor delicada. enrolar-se na língua quente, proteger-se entre dentes desalinhados e beber a todos os amanheceres o suco de um presente esboçado lá num passado.


A confiança leva tempo a conquistar porque um coração que confia é um coração aberto, sem defesas, que pode ser destruído pela mais pequena traição - Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira

Cinderela

Tinha uma capacidade conatural. Um olhar límpido, vítreo, luxuosamente bonito.
Os lábios, aveludados e cor de romã, eram  tentação às palavras. A sua boca...  abanava alheios quando sorria e quando falava. E como era belo o som da sua voz.
Graciosa. Cabia-lhe uma espirituosa alegria, como ao vestido de cetim azul que vestia, escorreito a um corpo esboçado.
Dela, inalava-se um aroma inexplicável, levava ao desejo iminente de a tocar e comer sem mastigar, engolir freneticamente e depois vomitar, num arrependimento de gula apressada.
Só beija-la, beijar o seu rosto acalmava as ávidas cobiças.
Dócil, misteriosa e serena.
Mimoseava ambições odiosas a quem era negado o seu desfrute. Provocava, queimando de fervor aos incapazes de a ter Cinderela.
Mas era Carmen,
chamavam-lhe Carmen.

terça-feira

devoluta carta

Ó ser que habita em lugar, aldeia, vila ou cidade, num país certamente. Ó apetecível desconhecido, imaginação minha de toque sereno.
Endereço-te correspondência, talvez vaga, incerta ou desprovida, sem dúvida minha, inquestionável e apaixonante. Porém, não te conheço hábitos, nem costumes, nem ideologias, muito menos sentimentos. Mas rogo, imploro que sejas distinto e admirável. Que sejas curioso, ambicioso e versátil. Previsível, nunca!
Que sejas pois tu, solitário que me acompanha, e eu, que com tua admiração me ria e me distraia. 
E se fores mais do que espero, que importa, que convém ao meu querer supérfluo? Pois anseio desejos infelizes no registo do que julgo desejar. 
E nada tumultua tua essência. Tu, existes. Tu és espelho sem vislumbre reflexo, onde o meu rosto brilha na ignorância da tua afigurada aparência.