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terça-feira

terapias

desistir dela não era opção. Difícil sim, fazer escolhas, dar respostas a perguntas inesperadas, estar preparada para o bolsar de problemas cépticos e quase acreditar em sentimentos controversos. Mais difícil era a demora de alguns acontecimentos, os que faziam perder horas do dormir. Ela e os outros, os que acompanhava sobre o efeito e encanto emanado pela pequena sala anil. Com alguns, acabava já à luz da manhã, deixando de ser só ligações clínicas. Caía em deslumbre aos encantos das estórias pouco lúcidas. Depois, estes abandonavam a sala e ela assentava à mão curtos relatórios em fichas cor-de-rosa, escrevia ao estilo memorando, sabia que vivia as aflições de todos, tal como com eles dormia.
Por fim, corria as persianas, a luz da já longa manhã aclarava a cor das paredes que se fizeram surdas para não empalidecerem na cor, arriscando-se à passagem de tom areia de passados desertos.
Calçava os sapatos, que ficavam sempre abandonados na sombra da secretária, apertava os botões da blusa e compunha no geral o seu estado remexido. Limpava a secretária de todos os documentos das consultas dessa noite e abandonava a pequena sala com um adeus a Brise, fragrância alfazema.
A pequena sala seria ocupada nas horas seguintes por uma terapeuta da fala.
A porta fechou-se.  

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