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segunda-feira

verde

o sol tinha poucas horas de nascido e em bando escolhiam as melhores armas!
iam para os novos caniçais de canivete na mão, escolhiam e afiavam as melhores canas verdes.
o verão tórrido, naquele agosto, queimara muitos dos campos daquela zona galega.

- Rapariga, tu larga-me essas canas verdes que te fazem babas!

as babas não deixavam desistir ninguém da magia de afiar canas e de as ter em punho para correr pelos campos atrás das lebres - não sei por que razão nunca as conseguiram apanhar - entrar nas grutas carregadas de teias de aranhas e sentir o cabelo esvoaçar à passagem de dúzia de pequenos morcegos. subir às figueiras e espetar os melhores figos da ramada mais acima.


os treze anos eram fascinantes, tão libertos de tudo. 
as canas? as canas tinham a validade de um dia, no outro o ritual iniciava-se como fosse a primeira cana afiada da vida.

numa matinal demanda à cana perfeita, uma forte dor de barriga assombrara aquela busca, algo de estranho sentira no corpo, correra para casa lançada à casa de banho…

- Mãe,... Mãe! 
- Ai minha filha que já és uma senhora!!!

já era uma senhora?!

a cana, meio afiada, encostada à pequena janela da casa de banho caíra no chão ao conhecimento de se ser mulherzinha. não percebeu, afinal qual a razão para ao meio-dia se ser senhora, no meio de se ser infante!?

deixou de ir às canas, de correr atrás das lebres e muito menos de subir às árvores.  acabava ali as façanhas de Maria Rapazola. 

novas afiadelas surgiram, em moldes totalmente diferentes.

4 comentários:

Shiver disse...

que venham mais afiadelas ;)

Beijos

Anónimo disse...

aprendizagens que serviram para a vida...digo eu! :P


fica bem


ps: a mim as canas só me fazem lembrar a escola primaria...talvez porque era um bom menino :P




Casaert disse...

Ui fiz isso tantas vezes, era o meu passatempo enquanto guardava o gado :D

Bjão
Casaert

worldsworth disse...

Canas e rituais de iniciação numa memória pintada no vento, em breve :)